Quem poderia dizer que aqueles dois simpáticos senhores, no café da Cultura, estavam pensando os destinos do mundo?
- Vocês deviam ser como nós! Vamos lá! Vamos transformar o mundo em uma ditadura sem limites. Acabamos de lançar o Centro Cultural Universal, investimento de 10 bilhões de dólares, aço escovado e vidro, teto removível, 6 bilhões de livros. Mas as reportagens políticas são retiradas.
- Não sei não... Aqui também é assim... Viu o caso do cartunista demitido por falar mal dos Bancos?
- E nada de “poluição espiritual”. Erotismo e gente falando mal do passado são proibidos.
- Isso é estratégia antiga, custa caro. Deixe-os muito ocupados para sobreviver e estarão muito cansados para tentar entender. Tire deles qualquer ordem maior capaz de investir no bem comum, de modo que subir a escada seja tarefa de cada um. Da favela para a universidade.
- Isso vende bem, é “moral”, ética do trabalho... E vocês, no fundo, controlam também a informação, não? Digo, há empresas gigantes, diversificadas, que mandam em estados inteiros, não?
- Se fizeres bons acordos com super-poderes de informação, de modo que os conceitos, a linguagem, a cultura desapareça, e nada faça sentido, até que percam sua identidade e regridam até a animalidade, depressão e violência...
- É prático, até. Esse negócio de ter de abrir livros da Amazon, perseguir escritores piratas, cansa... Adoro como vocês criam uma identidade obcecada, o desejo, incentivam a frustração, o prazer individualista, até a solidariedade virar uma piada. A atriz famosa só pensa em cinzeiros de prata, carros importados, viagens e drogas e o cara da favela só pensa em ser a atriz famosa.
- Sim, claro... A violência se espalha no mundo abandonado. Deixe 25 anos Nova Orleans sem investimento e a própria natureza se encarrega de acabar com a pobreza...
- E a classe média?
- Estarão endividados para comprar celular, roupas caras e pagar academias... O belo deve ser oferecido num contexto de a-pensamento. Quem dá a arte é quem dá a verdade. Mas, enquanto isso, deve retirar todas as limitações legais contra o poder das corporações, de modo a que se você poluir um rio, não tenha que pagar por isso...
- É, dá inveja desse mundo de vocês. Bem, vamos continuar nossa discussão no hotel. O Poder Global está todo lá.
Afonso Junior Ferreira de Lima
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