Depois de ter perdido a eleição em 1964, Salvador Allende se tornou, em 1970, o primeiro presidente socialista marxista da América Latina. Mesmo distanciado da política da guerra fria e das influências direta dos grandes países comunistas como URSS e China, o Chile virara um temor para o outro lado frio da guerra. Os Estados Unidos através da CIA deixou claro que o objetivo a ser conquistado seria a destituição do presidente eleito Salvador Allende.
Allende foi responsável por nacionalizar os bancos e estatizar as minas de cobre - principal produto de exportação chileno. Amado pelo povo, Salvador Allende, médico, intelectual, amante das artes, e verdadeiro concretizador das teorias socialistas, acreditava na política como ferramenta do povo para o seu próprio bem estar. Obviamente, os americanos não viam com bons olhos mais um país comunista no Continente. As manobras políticas foram cruciais para que houvesse o golpe militar. Orquestrado pelo secretário Henry Kissinger, o objetivo seria minar por completo a capacidade econômica do Chile, bloqueando as importações de produtos essenciais para a indústria, como parafusos e combustível. Greves e manifestações “populares” foram manipuladas. Assim, no dia 11 de setembro de 1973, o Chile foi tomado pelas forças armadas, lideradas pelo General Augusto Pinochet.
Todo esse episódio triste e marcante na vida dos chilenos pode ser visto no documentário “A Batalha do Chile”. Composto por três filmes, essa trilogia é considerado por muitos críticos como um dos melhores filmes produzidos na América Latina. Esse que vos fala, no mínimo, o considera como o mais importante documentário político da história da sétima arte. O diretor Patrício Guzmán registrou todos os momentos: da eleição de Salvador Allende até a sua derrubada. Dividido em três partes, o filme consegue transmitir com clareza tudo aquilo que estava acontecendo.
A 1ª parte, “A Insurreição da Burguesia”, registra os momentos da primeira eleição perdida de Salvador Allende até a sua eleição em 1970. Dedica grande parte do tempo demonstrando a insatisfação da população com a política do Chile, a dominação estrangeira na economia, os casos de corrupção, e a ausência de um grande líder. Patrício que em nenhum momento tenta transparecer imparcialidade deixa claro todos os motivos e objetivos daquela que seria uma grande conquista. Na 2ª parte, “O Golpe Militar”, Patrício faz jus de ter sua obra considerada como o melhor filme da América Latina. É aqui que o seu lado investigativo e corajoso vem à tona. Ele esmiúça com detalhes todos os momentos que antecederam a derrubada do presidente Salvador Allende. Na 3ª parte, “O Poder Popular”, Patrício faz uma análise completa dos motivos políticos e manobras da oposição que levaram ao golpe.
Há exatos 30 anos do lançamento da 3ª parte, “A Batalha do Chile” é uma aula de como se produzir um documentário. Principalmente diante dessa nova leva de documentaristas que se esquivam dos elementos essenciais do documentário. A verdade captada pela câmera é a ferramenta mais importante na transmissão de uma idéia e não apenas um detalhe. Hoje, as encenações de relatos testemunhados pelos documentaristas não são apenas alegorias, e sim todo mecanismo escolhido para se contar uma história.
Extraído do sítio A Prancheta.
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