ALLENDE
Para matar o homem da paz,
Para golpear sua face limpa de pesadelos
Converteram-se em pesadelo.
Para vencer o homem da paz,
Juntaram todos os ódios e também os aviões e os tanques.
Para abater o homem da paz,
Tiveram que bombardear-lo, pô-lo em chamas,
Porque o homem da paz era uma fortaleza.
Para matar o homem da paz,
Tiveram que desatar a guerra turva,
Para vencer o homem da paz, e calar sua voz modesta e penetrante
Tiveram que empurrar o terror até o abismo
E matar mais para seguir matando.
Para abater o homem da paz,
Tiveram que assassina-lo muitas vezes.
Porque o homem da paz era uma fortaleza,
Para matar o homem da paz
Tiveram que imaginar que era uma tropa, uma armada, una hoste, uma brigada,
Tiveram que acreditar que era outro exército,
Mas o homem da paz nada mais era que um povo
E tinha em suas mãos um fuzil e um mandato
E eram necessários mais tanques, mais rancores, mais bombas,
Mais aviões mais infâmias
Porque o homem da paz era uma fortaleza.
Para matar o homem da paz,
Para golpear sua face limpa de pesadelos
Converteram-se em pesadelo,
Para vencer o homem da paz
Tiveram que afiliar-se sempre à morte
Matar e matar para seguir matando e condenar-se à blindada solidão.
Para matar o homem que era um povo tiveram que ficar sem o povo.
Mario Benedetti
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