A questão indígena historicamente no Brasil é tratada com descaso. São mais de 500 anos de constantes agressões: genocídio, privação do direito à terra e desrespeito a cultura e modo de viver destes povos. Eram mais de 10 milhões de indígenas no território brasileiro, hoje restam um pouco mais de 500 mil. Em Santa Maria, há estudos que comprovam a presença indígena muito antes da cidade existir. No entanto, alguns setores da sociedade santa-mariense os enxergam como intrusos, inclusive alegando que sua presença é recente e que nunca habitaram este chão. Os povos Guarani e Kaingang resistem ao desprezo e permanecem na cidade, apesar da mínimas condições de vida que lhes são impostas.
O Levante sempre esteve presente na luta pela defesa dos direitos dos indígenas, pois acredita que para construir uma nova sociedade é preciso a união de todos os povos contra qualquer tipo de opressão. Nossa voz, batucada, indignação e força pra luta estiveram presentes nos espaços de articulação indígena na cidade. Foi o caso do Dia da Visibilidade Indígena, 12 de julho. O dia foi resultado de todo um processo de construção, que envolveu campanha de agitação e propaganda (produção de cartazes, colagens, produção de faixas, composição de músicas) e articulação com outros coletivos e pessoas.
No dia 12, os povos Guarani e Kaingang, o GAPIN (Grupo de Apoio aos Indígenas), movimentos sociais e o Levante estavam lá para perguntar: Invisíveis até quando? Uma exposição fotográfica sobre a cultura indígena, faixas de protesto, relatos de condições precárias de vida chamavam a atenção dos que passavam. Muitos com certa estranheza, perguntavam-se: o que passa? O que passa são mais de 30 anos de descaso com os indígenas em Santa Maria. O que passa é um genocídio silencioso das comunidades, falta dos requisitos fundamentais para uma vida digna. O que passa é o desrespeito à cultura e autodeterminação desses povos.
Com os semblantes serrados como punhos em luta, marcados pela consciência histórica do destino que lhes foi legado, os indígenas ao microfone denunciavam anos incontáveis de exploração e de resistência. Não pediam nada mais do que o respeito, o cumprimento de seus direitos, o direito de viver em paz, livres deste mundo capital. Foram desabafos profundos e trágicos como suas vidas, como sua história. Algo tão tocante ao ponto de não possuir definição.
Estas palavras, somadas às belas imagens expostas ao largo do calçadão e aos cartazes de protesto ousaram quebrar o silêncio que repousa cotidianamente sobre as comunidades indígenas de Santa Maria. Após um dia de denúncia e diálogo com a população, saímos em marcha rumo à prefeitura, carregando a esperança e reivindicações de mais de 30 anos de invisibilidade. Mais uma vez, o prefeito não se fez presente e os povos foram tratados com descaso: “De nada sabemos, não somos responsáveis”. O discurso se repete, aumentando nossa indignação e vontade de lutar.
Sabemos que não atingimos ainda nosso grande objetivo. Para a maioria das pessoas que tomaram as ruas depois deste dia 12, os indígenas continuam tão invisíveis como nos 30 anos de descaso que antecederam o ato. Sabemos também, pela lógica, que a entrega do documento na prefeitura provavelmente não passará de um “lembrete” a ser ignorado ou rebatido com uma bela e nova desculpa. Mas uma das três flores da esperança Zapatista existe para lembrar que “a luta é como um circulo”, que esta “não termina nunca” e que o poder popular é um constante caminhar rumo à libertação plena de um povo, neste caso, destes dois povos que estamos a apoiar.
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