Após o terremoto que abalou o Haiti no início deste ano, dezenas de militantes dos movimentos sociais brasileiros foram enviados para ajudar no processo de reconstrução do país. Desde então, estas brigadas de solidariedade atuam em quatro frentes de cooperação: produção de sementes, reflorestamento e produção de mudas, captação de água da chuva e escolas técnicas de nível médio.
Para matar a fome, haitianos comem "bolinhos de barro", uma mistura de argila com um pouco de gordura.
Leia abaixo a carta de um dos companheiros que ajudou a fundar o Levante Popular da Juventude, no Rio Grande do Sul, e agora colabora na luta pela emancipação do povo haitiano.Haiti 1 de novembro de 2010
Saudações a todos e todas as camaradas.Por aqui, neste pequeno país, mas de uma cultura e de uma diversidade gigante, estamos começando a desenvolver alguns trabalhos. Depois de um longo período de articulações, agora que alguns projetos começaram a andar: estamos trabalhando com as cisternas, onde temos 30 para instalar, tambem há outros projetos para criação de banco de sementes.
E nas regiões temos autonomia para trabalhar sobre temas que os movimentos queiram, aqui ja fizemos formações técnicas e políticas. Começaremos duas experiências com hortas e uma de reflorestamento, coisa pequena, mas ajuda muito.
E agora, para dificultar um pouco a vida dos haitianos, surgiu há duas semanas um foco de Cólera no centro do país, no estado de Lart Bonit. Os últimos dados que tive era de mais de 400 mortos e quatro mil infectados, mas o fato mais absurdo foi a forma como começou: os militares da ONU do Nepal tinham sua base infectada, então fizeram uma linpeza para desinfectar a base, e, após terminar, jogaram toda a água utililizada para um canal, canal este que os camponesses usam para irrigação e para o consumo.
Agora temos tambem as eleições, temos um bando de burguês disputando a presidência, e os movimentos estão tentando botar 16 deputados em um parlamento de 96, estão investindo todas as fichas aí. O estado haitiano é muito corrupto e covarde, é da mesma corja dos EUA. O coordenador do Plano de Reconstrução do Haiti, coordenado pelo Bill Clinton, vai receber por mês 200 mil dólares! Imaginem qual será a reconstrução…
O povo haitiano vive à espera de algo que os impulsione para a trasnformação, são muito dispostos a mudar, têm uma disposição, uma fé que os encoraja mas não que os una neste momento. Este é um reflexo de todo o proceso que a esquerda de toda a América Latina, e talvez do mundo vive neste período.
Aqui no sul do país, em Grand Ansse (grande lugar) estou bem, subindo muita montanha, comendo muito na casa dos camponeses e cavando muito buraco para as cisternas, agora somos em dois brigadistas: eu e o Roberto , argentino que chegou em setembro ao Haiti. Já construímos 12 cisternas e temos mais 29, já consigo me comunicar bem com os e as haitianas. Temos uma relação muito boa com os camponeses, quando voltamos para casa sempre estamos com a mochila cheia de banana, laranja, coco, a maioria entende que estamos aqui para construirmos juntos, e não somos simples brancos que vêm dar algumas esmolas.
Nos momentos livres saímos para as praias que tem na volta, jogamos futebol com a gurizada que tem por aqui, e fizemos algumas articulações já: conhecemos os médicos cubanos, e irmãs de Santa Mar
ia. Temos uma moto, o movimento liberou para nós, o único detalhe é que a cada vez que saímos temos pelo menos um problema, pneu que fura, gasolina que entope, acelerador que estoura, coisas assim. Dias atrás tivemos um pequeno incidente, roubaram nossa mochila, com todos os documentos, nosso dinheiro e nosso telefone, mas não foi nada que nos impeça de continuar na batalha.
Buenas, aqui estamos na batalha!
Como diz uma canção que os camponeses cantam:“Não podemos nos entregar na batalha
Não podemos nos entregar para os assassinos
A vitória final pertence ao povo”
Um forte abraço a todos!Ezequiel C.
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