MADRID EM CHAMAS

Informações sobre a situação política na Espanha, através de nossa correspondente em Madrid.

"Com brevidade, porque sei que o tempo de militante sempre é curto, lhes escrevo para dar um relato sobre a situação política na Espanha, que na última semana esquentou bastante.

No domingo passado (15/5) houve uma manifestação ampla, com mais de 20 mil manifestantes (isso segundo o El País) que integram um movimento por "Democracia Real". Esse movimento critica os partidos majoritários (PSOE, social-democrata, e PP, direita) e o sistema político em geral, que, com a crise econômica, favoreceu naturalmente os mais favorecidos. Esse movimento tem uma constituição bastante heterogênea: PCPE (Partido Comunista dos Povos Españoles), Coletivos feministas e outros movimentos de esquerda, Coletivos Anarsquistas, movimento ecologista e indivíduos sem qualquer histórico de militância que, pelo descontentamento, resolveram ir às ruas.

Desde o domingo, iniciou-se uma ocupação na Puerta de Sol, que é o centro turístico e coração de Madrid. O objetivo é ficar até o dia 22, quando haverá eleições para as Comunidades (tipo Estados ). 24 manifestantes foram presos, muitos outros feridos e a Justiça já deu ordens de desalojar a ocupação porque "perturba o prosseguimento adequado das eleições". O fato é que a ocupação continua e cada dia cresce. Hoje mais de 10 mil pessoas estavam pela tarde na Puerta de Sol e a perspectiva é que mais cheguem até o domingo. Realizam-se Assembleias gigantescas, para tirar linhas de ação e se fortalece o sentimento de companheirismo.

Ainda não está bem claro o que exatamente se quer, mas é impressionante a cativação que a mobilização tem conseguido e o nível de organização da ocupação que surgiu de maneira totalmente espontânea. O movimento diz não ter uma "ideologia" definida e que é constituído por "pessoas normais" que "trabalham todos os dias e não querem ser mercadoria nas mãos de políticos e banqueiros". Ao mesmo tempo, se fala em uma revolução que está ocorrendo e que é de todos. Em outras cidades na Espanha o movimento também teve repercussão e outras ocupações estão ocorrendo ao redor do país."

 Madrid, 20 de maio de 2011.