Em 1976, quando teve início a ditadura militar na Argentina, em uma casa comum, havia uma dona de casa, trabalhadora, ocupada com as tarefas do lar. Um dia, sua filha desapareceu. Depois, foi outro filho, os companheiros dos filhos, os netos. Famílias inteiras.
A história dessa mãe é a história de muitas. Ao longo de sete anos (1976-1983), a ditadura argentina deixou mais de 30 mil mortos e desaparecidos.
No final de abril de 1977, mulheres que perderam seus familiares se reuniram para chorar juntas na Praça de Maio, em Buenos Aires, capital argentina. Como era proibida a concentração de pessoas, foram afastadas pela polícia. As mães se foram, mas retornaram numa quinta-feira, dia 30 de abril, e começaram a circular, para enfrentar a repressão policial. A partir daquele dia, já não tinham apenas suas histórias em comum. Os filhos já não eram de uma mãe só. A dor de cada uma era também a dor de todas.
Há 34 anos que todas as semanas, às quintas-feiras, as mães dos mortos e desaparecidos da ditadura argentina concentram-se na mesma praça para exigir memória, verdade e justiça.
Podemos nos perguntar por que, tantos anos depois, essas mães ainda circulam na praça, mesmo sabendo que não poderão reencontrar seus filhos com vida. E essa é a maior lição de suas lutas. As Mães da Praça de Maio continuam, semana após semana, ano após ano, caminhando para dar sentido aos que partiram e lutando pela dignidade dos que ficaram.
Hoje, a Associação das Mães da Praça de Maio realiza debates em escolas e bairros, publica um jornal, mantém a Universidade Popular das Mães da Praça de Maio, por uma educação popular e apóia ativamente os movimentos sociais em defesa de educação, saúde, trabalho, terra e moradia, dando sentido à causa que já foi de seus filhos.
Os filhos das Mães da Praça de Maio estão em cada luta, em cada manifestação, em cada ato por uma sociedade verdadeiramente justa. As Mães sabem disso, por isso persistem. Seus filhos estão no povo.
“Inquietas, as Mães marcham a cada quinta,
reúnem-se todas as terças,
e o tempo não é capaz de alcançá-las...”
0 Comments:
Post a Comment