Historicamente a educação no Brasil é um assunto de segundo plano. A não ser em pomposas campanhas eleitorais, quando a sede por votos coloca em evidência temas de interesse da questão nacional, a educação é exaltada e surge como o primeiro compromisso de todos os candidatos. Mas, basta passar o período eleitoral para esse tema ser esquecido para ser retomado só depois de quatro anos.
O Brasil foi o último país na América Latina a ter uma universidade. Somente na década de 1930 a elite paulista decidiu criar a Universidade de São Paulo numa competição clara com o governo federal, que na época pretendia estabelecer uma universidade nacional no Rio de Janeiro, a Universidade do Brasil. Ou seja, a criação da primeira universidade no Brasil não se deu pelas demandas de produção de conhecimento ou por melhorias na qualidade de vida da população, se deu por mora disputa política entre as elites de São Paulo e Rio de Janeiro.
De lá pra cá muito pouca coisa mudou. Universidades novas foram criadas, porém o acesso a elas continua sendo restrito a alguns poucos, majoritariamente àqueles que pertencem às classes mais altas da sociedade. À imensa massa do povo brasileiro restam as escolas públicas sucateadas, que não incentivam o aluno a estudar e nem ao professor ensinar.
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e essa desigualdade é mantida e reproduzida por essa lógica que relega à educação um papel secundário no desenvolvimento econômico e social do país. A burguesia, os patrões precisam de mão-de-obra barata para manterem suas altas taxas de lucro e seu alto padrão de vida, portanto precisam de trabalhadores com formação técnica suficiente apenas para desempenhar suas funções subalternas no mercado de trabalho. Peão bom não é o que pensa, é o que trabalha!
A juventude é a que mais sofre com essa lógica de “secundarização” da educação, pois é ela quem sente diariamente os efeitos de um ensino que mal forma para o mercado de trabalho, muito menos que ajuda a emancipar a pessoa, a pensar e buscar soluções para os problemas da realidade. Um adolescente que se forma hoje no ensino médio público se depara com um dilema: encontrar um emprego em um mercado de trabalho cada vez mais exigente ou disputar uma das poucas vagas no ensino superior público com pessoas que tiveram uma formação de muito melhor qualidade em escolas privadas.
Se mesmo assim um estudante de escola pública consegue ingressar na universidade, a permanência deste na graduação se torna uma luta cotidiana, pois a universidade pública não está preparada para estudantes de baixa renda. A universidade pública continua exigindo de seus alunos que obtenham materiais caros para utilizarem em seus cursos, afinal a estrutura disponível dentro da universidade não é suficiente para todos que estudam nela. Basta entrar em uma biblioteca e ver quantos exemplares de um livro estão disponíveis para os estudantes.
Os programas de assistência estudantil são mínimos e, na maioria das vezes, exigem que o estudante trabalhe em funções alheias às áreas que ele estuda em seu curso, e tudo isso com uma bolsa-auxílio que mal dá para sobreviver por um mês.
Essa é a cara da educação no Brasil. Séculos atrasada em relação aos nossos vizinhos latino americanos, restrita a uma pequena elite que pode formar seus filhos nas melhores escolas privadas e um ensino público que forma (quando forma) mão de-obra barata para a reprodução do sistema desigual em que vivemos.
Precisamos quebrar com essa lógica. Precisamos de um ensino que nos forme para a vida, que nos dê a capacidade de refletir o mundo em que vivemos, que nos dê a capacidade de propor soluções para os problemas que enfrentamos diariamente.
Para essa educação que liberte dizemos que é necessário o investimento de 10% do PIB, exclusivos para a educação. É preciso investir no profissional da educação, garantindo a eles as condições de uma formação continuada, salário digno através do piso nacional dos professores, infraestrutura adequada para que possam desenvolver suas capacidades didáticas. É preciso lutar pela manutenção e ampliação das cotas raciais e para estudantes de escolas públicas nas universidades públicas. Queremos que 50% das vagas sejam destinadas a esses estudantes. Só assim quebraremos com a lógica elitista da produção de conhecimento da academia brasileira.
É um verdadeiro crime que mais de 24 mil escolas tenham sido fechadas no campo desde 2002. Em resposta a isso exigimos que mais institutos técnicos, voltados para a realidade do campo, sejam criados no meio rural brasileiro.
Essas pautas, em educação, são as mínimas para um país que se propõe a erradicar a miséria. Por elas estamos nos organizando em todo o estado e por elas estaremos na rua, exigindo respostas concretas dos governos. Somos jovens do campo e da cidade. Jovens pobres, de escola pública, camponeses, jovens trabalhadores, estudantes, organizados para construir um Projeto Popular.
Educação decente é o que a gente quer, não só andar de tênis nike no pé!
Pátria Livre! Venceremos!
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