Ontem foi um dia singular para quem nasceu ou vive no Rio Grande do Sul. Se celebra a data mítica da cultura gaúcha, “20 de setembro”, dia em que se iniciou o conflito que ficou conhecido como Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos. Mas com que sangue se escreveu essa história? Que liberdade é essa que estes estancieiros queriam?
Temos o feriado, temos desfiles tradicionalistas, temos as vestimentas típicas, mas não refletimos sobre os interesses por trás deste conflito e se essa imagem de gaúcho realmente representa os trabalhadores e trabalhadoras rio-grandenses.
Pra começo de conversa, esta guerra foi protagonizada pela elite rural sulina, estancieiros interessados em manter e até aumentar seus privilégios econômicos e de dominação do sul. Esta elite é ancestral dos grandes donos das terras do Rio Grande do Sul de hoje, que se forjaram em cima da escravização de trabalhadores e trabalhadoras negras. Representavam uma minoria da população local, grande parte do povo defendia o Brasil e não o separatismo do Rio Grande do Sul.
Se hoje são nomes de praças e ruas, herois locais, nomes como Bento Gonçalves, David Canabarro, entre outras tantos, também foram responsáveis por uma guerra de 10 anos que matou um sem número de negros e negras postos na linha de frente das batalhas, com a promessa que não se cumpriu de liberdade. Além da devastação dos povos indígenas, verdadeiros donos da terra e a violação das mulheres por onde as caravanas passavam.
Essas batalhas tiveram fim, os estancieiros voltaram pras suas vastas terras, continuaram sua produção de gado, escravizando gentes, patrolando culturas. Os negros que acreditaram na promessa de liberdade, aqueles que não foram massacrados, voltaram para as estâncias a trabalhar forçadamente.
E o que sobrou para nós?
Sobrou uma imagem de gaúcho, constituído das etnias europeias, da imigração de italianos, alemães, portugueses, espanhóis, macho, estancieiro, consumidor de pilchas, separatista.
Onde entram as mulheres, os negros e negras, indígenas, sem-terra, homossexuais, pequenos agricultores? O que tem de povo nesse tradicionalismo?
Esta história que conhecemos, foi escrita e contada pra nós por esta mesma elite, enaltecendo o ser gaúcho em detrimento do ser brasileiro, nos desunindo do resto do povo. Contar a história do povo também é uma luta que precisa ser travada!
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