Hoje, 11 de setembro, enquanto muitos lembram o ano de 2001, do ataque ao “coração” ianque, outros também lembram algumas décadas antes, mais precisamente 1973: um 11 de setembro que não apenas os chilenos, mas a América Latina e o mundo nunca esquecerão.
Golpe militar no Chile: o general Pinochet derruba o governo socialista e instala uma ditadura militar. O presidente Salvador Allende morre no decorrer da resistência. O estádio de futebol de Santiago converte-se em prisão. Vários brasileiros exilados no Chile serão presos e assassinados.
Hoje, 39 anos depois do Golpe militar que tirou a vida não só do “Compañero presidente”, como também de milhares de trabalhadores chilenos, podemos observar que Allende estava certo ao dizer que “os processos sociais não se detêm nem pelo crime nem pela violência”, quando olhamos para experiência democrática, popular e revolucionária do Projeto Bolivariano, que em grande medida, representa a continuidade dos sonhos que alimentaram toda uma geração de lutadores latino-americanos. Neste sentido, há menos de um mês das eleições presidenciais na Venezuela, acreditamos que a melhor forma de mantermos vivos os ideias pelos quais tantos chilenos morreram é a reeleição do presidente Hugo Chavéz NO DIA 07 DE OUTUBRO!
Nas primeiras horas da madrugada do dia 11 de setembro a marinha se sublevou em Valparaíso, depois de participar de uma manobra conjunta com a marinha norte-americana. As primeiras notícias eram confusas. Pouco a pouco foi ficando claro que se tratava de um golpe militar dirigido pela cúpula das Forças Armadas. A frente de todas as operações golpistas estava o novo comandante-em-chefe do Exército, um dos homens de confiança de Prats e do próprio presidente. Ele se chamava Augusto Pinochet.
Ao receber as notícias das operações militares, Allende se dirigiu ao Palácio de La Moneda. Com este pequeno grupo de homens e mulheres o presidente enfrentou por horas os ataques de tropas de infantaria, blindados e os temidos bombardeiros Hawker Hunter. Às 9 horas da manhã ainda pensou em distribuir armas para os trabalhadores. Convocou o comandante-em-chefe dos Carabineiros, general Sepulveda, e perguntou-lhe:
─ General, só resta distribuir armas ao povo. O senhor pode fazê-lo?
─ Distribuir armas, eu? Como quer que eu distribua armas?
Naquele momento as últimas tropas leais dos carabineiros se retiravam. O comando já não estava mais nas mãos do estupefato general.
Depois de mais de dois anos de governo não havia sido construída nenhuma estratégia para responder a um possível golpe militar, apesar das inúmeras ameaças e do crescimento da violência fascista.Confiou-se integralmente nos dispositivos militares legalistas de Allende. Quando este falhou, o governo e o povo ficaram sem uma alternativa viável. Os poucos agrupamentos armados de estudantes e de operários foram prontamente massacrados numa luta desigual. Milhares morreram esperando os regimentos leais ao governo. Uma página heróica e trágica da história dos trabalhadores latino-americanos.
Uma proposta de constituição de uma comissão militar integrada por oficiais leais e dirigentes ligados a Unidade Popular foi rejeitada. Apenas no final de agosto de 1973 começou a ser aventada a possibilidade de aplicação da lei de Defesa Civil que permitiria articular os carabineiros, ainda leais ao governo, e as organizações populares e sindicais. Esta era uma lei de 1945 e visava defender o país quando ele estivesse em perigo iminente. O plano não conseguiu sair do papel diante da oposição.
Na verdade, como afirmou Altamirano, "faltou à Unidade Popular a capacidade de prever a alterar as formas de luta quando isto se tornou necessário". Agarrou-se às instituições do Estado burguês quando a burguesia já as havia abandonado e caminhava abertamente no sentido da insurreição armada. Continuou: "Mas não era viável nem possível a manutenção de uma linha política institucional até iniciar a 'construção do socialismo', sem provocar rupturas. Por exclusiva vontade das classes dominantes, a confrontação devia produzir-se nalgum momento desse itinerário. E, por isto, o processo devia obrigatoriamente, contar com uma estrutura defensiva militar." Recuar, fazendo novas concessões à Democracia Cristã, ou avançar, rompendo a legalidade burguesa. Uma decisão nem sempre fácil de ser tomada.
Este, talvez, tenha sido o grande dilema e uma das limitações da experiência da "via chilena para o socialismo". Mas, os possíveis erros não devem encobrir o heroísmo da esquerda chilena e de seu valente presidente. As últimas palavras de Allende ainda repercutem na alma do seu povo: "Diante desses fatos, só me cabe dizer aos trabalhadores: não vou renunciar (...) pagarei com minha vida a lealdade do povo (...). Outros chilenos superarão esse momento amargo em que a traição pretende se impor; continuem sabendo que muito mais cedo que tarde novamente se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!". Em poucos minutos cairia morto o companheiro presidente e o povo nas barricadas e nas ruas responderia:
"Allende,
presente! Agora e sempre!"
Adaptado do artigo de Augusto Buonicore, publicado na Revista Acadêmica Espaço da Sophia, edição 31 – outubro de 2009.
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