“Nós
somos feitos de amor e nós queremos ser melhores porque existe o amor. O mundo
cria, gira, se multiplica porque existe o amor. Nós, que somos chamados de “cantores
de protesto”, acreditamos que o amor é fundamental, que o amor e a relação de
amor de um homem com uma mulher ou de uma mulher com um homem, ou de um homem
com seu semelhante, com seus filhos, com seu lugar, com a pátria, com o
instrumento que trabalha é vital, é a essência da razão de ser do homem. Por
isso que o amor não pode estar ausente da temática de um cantor popular”.
(Victor
Jara)
Victor Jara compôs e cantou o amor por seu povo. Em seus
41 anos de vida, o cantor e militante, pertencente ao movimento da Nova Canção
Chilena ao lado de Violeta Parra, transformou a arte em instrumento de luta. Cantou suas raízes, seu povo, denunciou
opressões e tornou-se um ícone na resistência à ditadura chilena.
No dia 16 de setembro de 1973, Victor Jara foi assassinado
no Estádio do Chile pelo tenente Edwin Bianchi. Sua morte tornou-se uma triste
e dolorosa lembrança da crueldade da ditadura de Pinochet. O relato do
jornalista Cannabrava Filho, publicado no Sul21, nos faz testemunhas do que
aconteceu há 39 anos:
“Em um dado momento, Víctor desceu para a plateia e
se aproximou de uma das portas por onde entravam os detidos. Ali topou – cara a
cara – com o comandante do campo de prisioneiros que o olhou fixamente e fez o
gesto mímico de quem toca um violão. Víctor assentiu com a cabeça, sorrindo com
tristeza e ingenuidade. O militar sorriu, contente com sua descoberta. Levaram
Víctor até à mesa e ordenaram que pusesse suas mãos em cima dela. Rapidamente
surgiu um facão. Com um só golpe, cortaram seus dedos da mão esquerda e, com
outro, os da mão direita. Os dedos cairam no chão de madeira, enquanto o corpo
de Víctor se movia pesadamente. Depois choveram sobre ele golpes, pontapés e os
gritos: ‘canta agora… canta…’ (…) De improviso, Víctor se levantou
trabalhosamente e, com o olhar perdido, dirigiu-se às galerias do estádio…
fez-se um silêncio profundo. E então gritou:
–
Vamos lá, companheiros, vamos fazer a vontade do senhor comandante.
Firmou-se
por alguns instantes e depois, levantando suas mãos ensanguentadas, começou a
cantar o hino da Unidade Popular (Coligação de partidos de esquerda que
apoiavam o governo de Allende), a que todos fizeram coro. Aquele espetáculo era
demasiado para os militares. Soou uma rajada e o corpo de Víctor começou a se
dobrar para a frente, como se fizesse uma longa e lenta reverência a seus
companheiros. Depois caiu de lado e ficou ali estendido”.
Em 2007, foi organizado no Chile um esculacho
(chamado de “funa” pelos chilenos) no local de trabalho de Edwin Bianchi, que atuava impunemente no Ministério do Trabalho do Chile. Bianchi foi demitido
e hoje responde a processo.
Na canção “Manifesto”, Victor Jara disse: ‘“Eu
não canto por cantar/ nem por ter boa
voz. / Canto porque a guitarra/ tem sentido e razão [...]/ Que não é guitarra
dos ricos/ Ou qualquer coisa parecida/ Meu canto é dos andaimes/ Para alcançar
as estrelas/ A música faz sentido/ Quando pulsa nas veias/ Daquele que morrerá
cantando/ Verdades verdadeiras [...]". Que o amor que Victor Jara por seu povo, que a verdade de sua música, que seu exemplo sejam resgatados a cada momento de luta. Assim, seu canto alcançará muito mais do que as estrelas.
VICTOR JARA:
PRESENTE, PRESENTE PRESENTE
AGORA E SEMPRE!
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