Qual é o papel das escolas nos assentamentos e acampamentos?
A luta do MST por educação vai além de implementar escolas em acampamentos e assentamentos. O desafio está em conseguir gestioná-las e transformá-las dentro da perspectiva de uma escola do campo libertadora. Este foi o tema abordado pelas professoras Rosa Elane Lucas e Isabela Camini, durante o Encontro Estadual dos Educadores e das Educadoras da Reforma Agrária, que acontece desde quarta-feira (22/4), na cidade gaúcha de Santa Maria.
Professora do Departamento de Geografia da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas), Rosa Elane Lucas recuperou o desenvolvimento do conceito de Educação do e no Campo, construída pelos movimentos sociais, em contraposição à Educação Rural, que traz a visão latifundiarista e subserviente do campo ao meio urbano. "Neste processo é fundamental a atuação do professor-educador, que deve sair do lado mais simples, da memória, e estimular a construção do pensar", diz.
No entanto, não basta construir as escolas dentro de acampamentos e assentamentos. Para que sejam realmente do campo, é necessário que os movimentos sociais consigam geri-las e transformá-las desde "dentro", como se referiu a pedagoga Isabela Camini. "Em um dos primeiros acampamentos na história do MST, o da Encruzilhada Natalino (RS), os educadores diziam que queriam construir uma escola deles, que tratasse das suas necessidades e da luta do MST. Isso, para mim, mostra que a escola do MST nasceu contrariando a escola capitalista. O desafio é lutar pela implementação da sua pedagogia nas escolas", afirma.
Para as professoras, as mudanças nas escolas se referem à avaliação escolar, que no sistema convencional é repressivo; na relação educador-educando (que em muitas escolas nos assentamentos reproduzem o sistema opressor-oprimido da escola convencional); no conteúdo diferenciado e interdisciplinarizado; na condição física da sala de aula; e também no calendário escolar, que segundo a legislação federal deveria estar adequado às fases do ciclo agrícola das condições climáticas.
"A escola tradicional nos formou mas não nos serve porque ela abafa a rebeldia dos construtores do futuro. A escola é o coração dos acampamentos e dos assentamentos e com tal importância deve ser tratada", argumentou Camini.
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