O dia oito de março é conhecido internacionalmente como o dia da mulher. Para as mulheres dos movimentos sociais, mais do que uma data de homenagens e comemorações, o dia oito de março é um dia de lutas. Assim faz a Via Campesina – organização que reúne movimentos campesinos de quatro continentes e que, tradicionalmente, realiza mobilizações neste período. Em entrevista a Radioagência NP, a integrante do setor de gênero do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Soraia Soriano, abordou os motivos que continuam a mover a luta das mulheres camponesas. De acordo com Soraia, a mulheres são prejudicadas porque trabalham excessivamente, tanto em casa, quanto no campo. Agora, a responsabilidade do sustento da família também é da mulher, mas isso não se traduziu em mudança do comportamento da família. Soraia ainda aborda porque o agronegócio, que tanto prejudica os camponeses, afeta ainda mais as mulheres.
Da Radioagencia NP
Quais as principais bandeiras das mulheres da Via Campesina?De que forma as mulheres são afetadas pelo agronegócio?
Estamos falando das mulheres do campo. Aí tem uma diferença.Tem aquelas que são trabalhadoras assalariadas e tem aquelas que são da agricultura familiar. Como nós estamos falando mais objetivamente da nossa base social, que tem composição familiar, aí tem um recorte que precisamos entender bem. Na pequena produção, os pequenos produtores hoje estão em uma posição muito difícil em termos de preço, comercialização. Isso atinge o conjunto da família, mas sempre sobra para as mulheres buscar alternativas.Como assim?
São as mulheres que saem da terra para conseguir algum trabalho fora e aí, elas são sempre as empregadas de baixos salários e ela se ausenta desse espaço do campo, então passa a sofrer toda a violência psicológica e moral. Porque o homem permanece no lote, quem sai é a mulher e o jovem, já que a dificuldade de sustentar a família nesse processo de poucos investimentos na reforma agrária recai sobre o conjunto da família.
Quais os avanços já conquistados desde a primeira manifestação das mulheres da Via Campesina no oito de março?
Talvez seja mais visível o de ordem subjetiva. Há um processo de participação das mulheres de diferentes organizações que passa a pautar tanto o tema específico das mulheres, como os objetivos gerais de cada organização e da própria Via. Agora, o que eu acho que teve como avanço objetivo é que, de fato, as mulheres têm pautado esses males com maior contundência. Então, nós, nesse último período, mostramos para o conjunto da sociedade que o agronegócio deve ser questionado no que eles dizem que é o objetivo dele.Aquela ação da Aracruz Celulose foi um marco para a luta das mulheres da Via?
Com certeza. Primeiro porque foi num momento muito interessante em que estavam no Rio Grande do Sul as principais referências internacionais abordando o tema da reforma agrária. E o governo Lula também estava pautando isso. O momento político possibilitou trazer a tona as grandes empresas do eucalipto, da cana, etc. Não só nós, mulheres do MST aqui no Brasil, mas várias organizações estão questionando as vantagens competitivas desse setor aí, que é baseado no uso intensivo dos recursos naturais, água, floresta, concentração de terra e muito relacionado com o investimento público.Estas mobilizações no dia internacional da mulher as ajudaram a ter mais espaço dentro de suas organizações políticas?
Esse dia para nós é um dia em que as mulheres se preparam para ser protagonistas e isso não tem o que pague. As mulheres nos cobram para estar em atuação nesse dia. O que nos falta é dar continuidade a esse processo ao longo do ano. Mas, sem dúvida, a participação nesse dia, para todos nós mulheres, é muito importante.
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