Campesinas: Muito além do discurso
Na segunda feira (9), 700 mulheres ligadas a Via Campesina, ocuparam a Estância Aroeira (antiga Fazenda Ana Paula), de propriedade da Votorantim Celulose e Papel (VCP), no município de Candiota, em protesto contra os prejuízos causados a produção das famílias assentadas no entorno das lavouras de árvores exóticas.
Conteúdo extraido de CEL3UMA Jornalismo Subverso
Compreender por que as mulheres da Via Campesina reagem com tamanha energia física e moral contra as plantações de eucaliptos Brasil afora demanda analisar o grande malefício político, social, econômico e ambiental que as monoculturas de árvores exóticas, como o eucalipto, podem causar. Mas há, ainda, o valor simbólico da ação dessas mulheres a cada 8 de março. Em tempos de criminalização dos movimentos sociais, as mulheres sem-terra são duplamente atacadas e oprimidas, mas o Dia Internacional da Mulher tem, no Brasil, um significado a mais, graças a elas. As ações fazem parte da Jornada Nacional de Luta e pretendem denunciar as conseqüências da monocultura do eucalipto em diversas regiões do Brasil, onde, em muitas áreas já falta água para o consumo humano e criação de animais.
No Rio Grande do Sul não foi diferente. Na segunda feira (9), 700 mulheres ligadas a Via Campesina, ocuparam a Estância Aroeira (antiga Fazenda Ana Paula), de propriedade da Votorantim Celulose e Papel (VCP), no município de Candiota, em protesto contra os prejuízos causados a produção das famílias assentadas no entorno das lavouras de árvores exóticas. Muitas lavouras estão sendo invadidas por animais silvestres que perderam seu habitat natural em função do plantio indiscriminado de eucaliptos. Os ônibus de cada uma das regiões do estado estacionaram ainda na madrugada de domingo para segunda. O sol ainda não havia nascido, quando os primeiros eucaliptos, que mediam entre 10 e 15 metros, foram cortados. O cinegrafista do
Coletivo Catarse resumiu assim a cena: "Como é bom o cheio do eucalipto cortado pela manhã". Depois de cortarem cerca de dois hectares de mata exótica, as mulheres seguiram em marcha pela propriedade e montaram acampamento.
No amanhecer desta terça (10), a Brigada Militar destruiu o acampamento das mulheres, localizado numa via pública entre um assentamento e a área da VCP. As manifestantes que estavam com seus filhos foram separadas das demais e destas, aquelas com crianças em idade escolar foram também separadas. A idéia da BM é tentar responsabilizar as mães, com crianças em idade escolar, através dos Conselhos Tutelares de municípios próximos. De um lado, o Governo do Estado e o Ministério Público Estadual, fecham as Escolas Itinerantes e deixaram 600 crianças do meio rural dependendo da boa vontade de prefeituras, já precarizadas e com verba reduzida para atender a sua própria comunidade escolar. De outro, agora, se utiliza de um expediente legalista, para transferir a responsabilidade para as agricultoras acampadas. Detalhe que a BM não viu e os jornalões não publicaram: entre as acampadas, estavam as educadoras populares das crianças.
Também nesta terça, assentados e assentadas das proximidades juntaram-se às mulheres da Via Campesina e cortaram mais eucaliptos da propriedade de 18 mil hectares da VCP em Candiota. A área da Votorantim circunda 53 assentamentos, onde moram 1,8 mil famílias de camponeses que produzem para a subsistência e o mercado local e é historicamente reivindicada pelo MST para reforma agrária, por se manter improdutiva até a instalação da produção em série de árvores exóticas. Vá saber o que é pior... Além dos prejuízos na produção e ao meio ambiente, a Votorantim também demitiu, em nome da crise do capital, trabalhadores urbanos contratados para o plantio e manutenção das lavouras. A conseqüência é o maior empobrecimento da população.
"Depois de especular contra a moeda brasileira e ter prejuízos com a crise financeira, a Votorantim Celulose e Papel recebeu R$ 6,6 bilhões do governo brasileiro para adquirir a Aracruz Celulose, através da compra de metade da carteira do Banco Votorantim e de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O custo da compra foi de R$ 5,6 bilhões. A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado e mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas, e a VCP outros 2 mil trabalhadores na metade sul. O agronegócio foi o segundo setor que mais demitiu com a crise financeira. Apenas em dezembro, o agronegócio demitiu 134 mil pessoas em todo país", afirma, em nota, a Via.
Em 2007 a VCP teve receita líquida de R$ 30,4 bilhões e lucro líquido de R$ 4,8 bi. A empresa quer controlar 140 mil hectares no Estado. Atualmente possui 48 mil hectares em 27 municipios, a maioria da região Sul. A VCP afirma ter realizado parceria com pequenos agricultores e assentados. Segundo dados da própria empresa, 4 mil agricultores se inscreveram e apenas 500 foram selecionados, destes 200 são assentados e 160 são pequenos agricultores. A empresa promete para cada família que plantasse eucaliptos, uma renda de R$ 5 mil e R$ 40 mil ao final de 7 anos. Como o custo da plantação é cerca de R$ 2,3 mil, portanto, sobraria R$ 2,6 mil ao final destes 7 anos. Ou seja, a família que planta 1 hectare para a VCP recebe em média R$ 385,00 por ano, ou ainda R$ 32,00 por mês. Uma família que vende 10 litros de leite por dia tem uma renda 3 vezes maior por dia. Quando recebeu incentivos e isenções para se instalar no RS, a Votorantim afirmou que o empreendimento abriria 30 mil novos postos de trabalho. Hoje a própria empresa informa que seus projetos geram 2,5 mil na indústria e outras 2 mil vagas temporárias na manutenção e corte das lavouras de eucalipto.
Fotos Agência CeL3uma Imagem
Com informações de Licurgo Urquiza
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